Um espaço dedicado a literatura e ao estímulo de novos escritores, ajudando a aprimorar e a divulgar o trabalho de toda aquela pessoa que gosta de escrever. "A continuidade depende de como reiniciamos"...

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Acróstico Dia do Poeta






Deixe-me solto para
Inovar o pensamento
Adormecendo os receios.

Desperto os anseios quando
Ouço o sentir.

Parar causa dano irreparável.
O dom insaciável carece de
Esperança para cantar alto
Tanta energia
em palavras
Antes
que desapareçam...





Por: José R. Assumpção

Ser Poeta





O poeta é igual a todo mundo que é diferente!

Seu riso é dor; sua dor consigo ri, sofregamente.

Poeta não mente a não ser para tua própria mente.


Poeta não tem casa, e nem sabe exatamente o significado

Da palavra lar. Ele vive acima disso! Consegue enxergar o mundo,

Por olhos diferentes, dos meus e dos teus.


O poeta vê o mundo, a alguns degraus abaixo de Deus!


Para você se tornar um poeta

Não bastará um tilintar de dedos...

Para ser poeta, terá que viver sem medo.


Poeta enxerga Amor em todo lugar!

Quando bombas marcam silvos no ar,

Ele o encontra até lá...


O poeta vive por viver intensamente.

Sem distinguir a quem pertencem os momentos,

Os vive integralmente.


E não difere de alguém em função de particularidades,

O poeta enaltece a todos que exibem no peito e na alma,

A altivez da tua singularidade.




Por: Angelo Ronaldo

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Prisão




Prisão que sufoca meu ser, que me impede de querer ser livre
Prisão de pedras que quer arraiga-se no meu coração
Que me mantém no oculto, na escuridão desses muros
De sentimentos, de silêncio, de desumanidade...

Procuro livrar-me dessas correntes de ódio, de maudade
Dessa prisão que me inquieta e me definha a cada hora
Desse silêncio ensurdecedor dessa tortura que aqui mora...

Quero a luz do dia, sentir seu calor,
Quero ver a rua, sentir a ventania, sentir o gosto do amor
Quero ler os olhos, sentir o aroma das flores,
Quero tocar, sentir os sentidos quero passear pelas cores.

Não me contento com as gotas do sol, com a distância das estrelas
Não me contento com as migalhas da “liberdade” ,
Com a minha minguada morte sem poder provar o sabor das bondades.



Por: Estênio

Os muros da tristeza



É imperceptível aos olhos, a profundidade da tristeza. Pois
só o coração consegue com precisão, enxergá-la e
externá-la em forma de lágrimas.
Lágrimas que ao saírem dos olhos, chegam ao coração como se fosse um bálsamo, originado do desabafo adquirido pelo poder que tem as lágrimas de conter a dor sentida.
E vagarosamente, a dor que outrora de um ser apoderou-se, vai sendo exterminada. Dando-lhe assim, forças para demolir os muros temerosos desse cruel sentimento.

Por: Nalva Nogueira

domingo, 3 de outubro de 2010

A Reunião

Nos tempos recentes, existem muitas situações surpreendentes que pouco mais de uma década atrás eram tão naturais quanto respirar. Atualmente esquecer o celular em casa é equivalente a esquecer a cabeça. Trabalhos didáticos, do primário ao doutorado se resumem em pesquisas na internet. Receber uma carta é tão estranho quanto o sistema eleitoral voltar para as cédulas! Mas eu recebi uma carta! E não era propaganda de político, nem do SERASA e muito menos o boleto do cartão de crédito. Era uma carta mesmo, a moda antiga! Meu nome estava completo. E tinha até o remetente “Mario Dinarti”, com endereço completo e direito a complemento. Tentei lembrar se conhecia algum Mário Dinarti, mas por mais que puxasse na memória, não conseguia recordar do indivíduo.

Ao abrir a carta, a surpresa!

“Caro Sr. Daniel,

Estou lhe convidando para participar de um encontro político que irá envolver indivíduos de diferentes tendências ideológicas.

Sua presença é indispensável.

A reunião acontecerá...”

Estranho. Mas resolvi participar. Que mal faria? E o local de encontro era o auditório da universidade federal. Não seria golpe. Chegando ao ponto marcado, dei-me conta do que estava a acontecer! Com certeza seria o início da Terceira Guerra Mundial! Uma figura com correntes penduradas em suas vestes fumava um cigarro no portal de entrada do auditório; Um barbudo com camisa vermelha distribuía panfletos para quem passava pelo local; O celular não parava de tocar sendo atendido constantemente pelo sujeito de terno e maleta; Não deixei de notar um homem com as unhas sujas de terra, um rapaz com feições delicadas, e mais dois personagens com características comuns.

- Senhor Daniel! Que bom que veio! Vamos entrar, a reunião irá começar...

Mesmo não entendendo o motivo de estar ali, em pouco tempo começou uma confusão onde eu era apenas um telespectador:

- “Eu sou comunista porque acredito em um Estado único!” “Eu sou socialista porque luto pela reforma agrária!” “Sou capitalista porque ninguém vive sem dinheiro!” “A reforma é o meio termo, por isto apoio!” “O anarquismo visa um Estado cooperativista, sem poder centralizado!” “Sou punk porque quero que o Estado se exploda!” “Sou apolítico porque...”

“Por que mesmo?! Tantos títulos! Tantos rótulos! No fim, poucos entendem o que é política...”, fiquei a pensar. O pau comendo no centro e eu tentando entender o porquê daquele evento. O tal do Mário Dinarti vez ou outra intervinha na tribuna, mas passava a maior parte do tempo sorrindo. Até que o homem de paletó se levantou e pegou o microfone, fazendo todos calarem:

- Já imaginaram um bairro com uma rua que o transpassa sentido leste-oeste, e a parcela da população que mora no leste requerer que a preferencial fosse sua, e vice-versa? Obviamente um conflito seria criado. Na lei da “Idade Média” uma guerra resolveria a questão! Mas hoje uma Associação de Moradores decidiria este impasse sem conflito armado e derramamento de sangue. Podemos afirmar que a política é uma ferramenta para a evolução humana.

- Evolução humana? Você está de brincadeira! – o rapaz com cabelo moicano e jaqueta coberta de correntes havia se levantado furiosamente – Reacionário! Vem com esse papinho de pequeno burguês, mas está apenas pensando no poder!

- Associação de Moradores é apenas um antro de pelegos capitalistas! – o barbudo tinha um tom irônico enquanto cochichava no meu ouvido. Foi então que o rapaz de feições delicadas com um círculo contendo a letra “A” tatuado em seu braço levantou-se e do auditório falou calmamente:

- Entretanto, a política, como uma ferramenta, pode ser usada para a destruição humana. As mazelas que acercam o mundo são tantas, que citá-las seria clichê! O objetivo não é bradar “palavras de ordem”, mas sim entender como uma ciência genuinamente humana pode servir contra os propósitos humanos! O mundo não foi, não é, e nunca será dos espertos! A esperteza, não é política. Mas uma coisa é fato, não existem seres “apolíticos”. Não dentre os que pisam o pó do chão.

Realmente o rapaz tinha certa razão. Vivenciamos a política nas ações simples da vida. Comprar os alimentos em uma feira, por exemplo. O consumidor irá procurar o que é o melhor para ele, de acordo com suas necessidades e alcance. O vendedor, por sua vez, tentará provar que seu produto se encaixa nas pretensões do consumidor. “Mas isto não é comércio?!” Claro! Mas as relações interpessoais é política!

- Caro amigo Daniel. Não gostaria de se pronunciar? – convidou-me Dinarti demonstrando a tribuna.

- Até agora não entendi porque você me convidou para essa reunião... – com o que eu disse todos se calaram. Olhavam-me como se fosse um estranho no ninho.

- Oras! Todos aqui afirmam ser algo! Tem comunista; anarquista; capitalista; até aquele senhor ali, o Marcelo, afirma ser apolítico!

- Mas eu não levanto nenhuma bandeira... Não entendo ainda...

- Justamente por isso! Gostaríamos de ouvir o ponto de vista de alguém que está inserido no sistema e entende bem como ele funciona... – Dinarti sorria enquanto falava.

- Mas como?.. – Naquela altura já não importava mais saber detalhes de todo aquele momento surreal que estava vivenciando. Levantei-me, sendo fuzilado pelo olhar de todos os presentes. Subi na tribuna, analisei todos, e de forma vacilante, falei:

- Existem aqueles que exageram quanto à rotulação da política. Por exemplo, os comunistas “marxistas”, “leninistas” e “stalinistas”. É tanto “ista” que dá até pra confundir. Mas Marx estava correto quando formulou a teoria da DIALÉTICA... Ou teria sido Hegel? Ou até mesmo Platão... A política tem como base a dialética. Sempre teve, e sempre terá. A dialética nos permite compreender a evolução da postura humana na prática de relacionamentos. O que pode ser verdade hoje, amanhã é dúvida, e depois de amanhã é a falha que sustentará a verdade vigente que outrora era a própria falha da verdade dialética. Eu tenho a minha posição política formada. Sou coerente! Estou inserido no sistema, seja ele qual for, e atuo nele como cidadão e profissional. Não me deixo atrelar aos “istas”, porém procuro viver com justiça! E a “política partidária” não é POLÍTICA, é um EMPREENDIMENTO.

Por: Ricardo Dantas

Thelema



E seus olhos eram vermelhos
Mas com quê dor eu pude viver,
Se tudo ao meu redor é anoitecer?

Olho as pessoas nas ruas
E seus olhos são cadavéricos
Seus olhos, poupe-me de cortesias
Eles sangram e vejo que vocês sofrem

Eles sofrem pelo que fizeram
Pagaram o preço
Eles são aqueles que trouxeram a morte
Levaram muitos a loucuras
Em nome deles mesmos

Poupe-me mais uma vez
Pois se não consigo ver teu olho ser humano
Então vocês continuam sofrendo
Pois como a tua terra, eles são vermelhos

Por: Joseph Stones

A Fotografia

Amarelecida pela fuga do tempo e pela oxidação da juventude jazia a fotografia, aparada pelo hospedeiro envernizado e artisticamente entalhado por algum poeta das formas. Suaves contornos compunham aquele instante esquecido no fosco pedaço de papel: a moça graciosa de sorriso eterno e quase infantil, rodeada por um céu intenso e longínquo.

Ele, mergulhado num conjunto quase infindo de anos de uma solidão contínua e viciante, deparou-se com o som triste de um choro pesaroso. Seus olhos, ao escutarem o piado nostálgico da tessitura que se compunha ao vento, pousaram defronte àquela lâmina de madeira que amparava o riso da moça presa a um passado empoeirado:

O riso chorava.

Ele, pensando-se enlouquecido, tirou o par de óculos que lhe trazia mais lucidez ao espírito e fixou o momento: a bela menina de traços liquefeitos esboçava um sorriso que nascia da juventude em flor. Mas o som, o canto amaríssimo de melodia suave adentrava pelos sentidos e comunicava aos velhos pensamentos que o pesar morava ali, naquele riso encarcerado.

Após alguns momentos de apnéia, consequente da surpresa a que se expunha, o velho trouxe os dedos finos aos olhos míopes, como tentasse se libertar daqueles fantasmas que se desgrudavam da polpa de papel carcomido pelo tempo.

Vagarosamente, a mente do velho, sulcada pelo pecado de ainda estar viva, deixou-se devanear em lembranças empoeiradas advindas das tralhas que guardara como adorno no interior da alma.

O riso deu as mãos desbotadas ao corpo cansado da jovem e trouxe-a para o presente dos olhos atônitos: era o amor que partira ainda nos anos de ouro e que estava de volta com as malas em punho, prestes a abraçar o fantasma abortado do corpo envelhecido.

Ela aproximou-se como se volitasse através de uma brisa que soprava ao sabor do que esperara por toda vida. O riso se converteu em vida, sua alma se reencarnou em juventude e ambos se abraçaram rodeados por uma eletricidade que lhes brotava do cerne da vida. Um beijo demorado com gosto de carne e pecado desvelou-se no aglutinar dos corpos em frenesi. Alvos lençóis de seda modelavam aqueles corpos nus e sedentos de carícias: elas desciam em avalanches crestando aqueles segundos intermináveis com o fogo de um amor transcendente.

Eles eram o presente e não seriam traídos novamente nem pelo tempo que desvasta, nem pelo flash mecânico que aprisiona e trai um amor.

No íntimo, o velho sabia que aquele momento epifânico lhe custaria as moedas de um resto de sofrer entorpecido pelo desmemorialismo, causado pela deserção dos neurônios ainda em vida.

Assim, após se recompor o homem pôs os olhos sob as lentes; sem, contudo deixar de fixá-los febris sobre a fotografia que lhes parecia sorrir. Ao longe, o sussurrar imantado à poeira do tempo produzia seu canto úmido de lágrimas.

As mãos frias e trêmulas daquela carne que se entregava ao flash último da vida, seguraram a fotografia do sorriso de encontro ao peito, com a força de uma fera pronta a devorar sua presa fragilizada. O velho sentou-se na poltrona tão antiga quanto suas ruínas interiores, olhou novamente o doce riso da jovem e rasgou a fotografia em pedaços pequeniníssimos. Deu então a última baforada de ar aos pulmões exaustos e sorriu ternamente ao escutar a voz do riso recém-liberto que se aproximava dos olhos lúcidos sob as lentes e, entre lágrimas, escutou com prazer a nova tessitura de som angelical que lhe chegava aos ouvidos: a morte abriria seus portais sagrados, com a benção da vida.

Por: Sandra Datti

Dançar



Ajeita-se o desdobrar no tempo,
marcando passos,
marcando espaços.

A vida é dada ao movimento!

A poesia corporal...
Entonação,
contornos e bordas
da emoção coreografada.

Por: Juleni Andrade

Letras Bailarinas


Letras são bailarinas perfeitas
que bailam lépidas no papel
em piruetas chegam ao céu
e a toda alma enfeitam

Formando versos tão bonitos
em sincronia maravilhosa
escrevem, poemas e prosa
e alcançam o além, o infinito

Letras nos fazem voar tão alto
advertimos ao leitor incauto
que desprezam a imaginação:

Letras são perfeitas bailarinas
que embriagam as nossas retinas
se o poeta é pleno em inspiração


Por: Lena Ferreira